Ao finalizar a Primeira Guerra Mitridática, Sila deixou Mitrídates (imagem ao lado) no controle de seu reino, apesar de haver sido derrotado. O cônsul Lúcio Licínio Murena assume a província da Ásia ao comando de duas legiões que faziam parte do contingente dirigido por Caio Fímbria. Murena, que tinha a incumbência de executar as cláusulas do tratado de paz entre Roma e o Ponto, acusou Mitrídates de estar rearmando seus exércitos e invadiu o Ponto em 83 iniciando a Segunda Guerra Mitridática. Quando foi derrotado por Mitrídates em 81 a.C., Murena desistiu de continuar as hostilidades contra o Rei do Ponto seguindo a orientação de Sila. Era um período de grande desordem na República Romana onde várias guerras civis eclodiam em seus territórios. Mitrídates aproveitou então a oportunidade que surgiu para seu soerguimento e revanche contra Roma. Em 74 a.C., morre Nicomedes IV, rei da Bitínia, e lega seu reino à República Romana que faz da Bitínia uma província. Fortalecido por sua aliança com o rebelde Sertório da Hispânia, que desafiava à República na Península Ibérica, e por sua cumplicidade com os piratas do Mediterrâneo, Mitrídates quebra seu trato com Sila e anexa a Bitínia ao seu reino: inicia-se a Terceira Guerra Mitridática contra Roma.
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Ilustração das vitoriosas legiões romanas |
O Senado incumbe a Lúcio Licínio Lúculo a missão de lutar contra Mitrídates, a quem já havia enfrentado na Primeira Guerra Mitridática. Lúculo estava na região sul da Cilícia e imediatamente foi confrontar o exército pôntico. M. Aurélio Cota por terra e Nudo por mar combatem Mitrídates e são derrotados refugiando-se em Calcedônia onde são sitiados pelos pônticos. Ao chegar ao seu destino em novembro de 73, Lúculo reúne diversas legiões que estiveram combatendo na Ásia Menor. Em vez de ir direto ao Ponto, que estava desguarnecido, Lúculo prefere ajudar seus colegas. Mitrídates com cerca de 300.000 homens tenta ocupar a estratégica cidade de Cizico na Mísia e coloca suas tropas ao pé da montanha de Adrastéia, ao lado oposto da cidade, enquanto seus navios bloqueiam o mar e as pontes que separavam a cidade da terra.
No entanto, as poderosas muralhas e a abundância de provisões da cidade fazem fracassar seu intento. Lúculo ( imagem ao lado) bloqueia as vias de provisão de Mitrídates, que por fim acaba retirando suas forças. A lealdade da cidade à Roma foi recompensada por uma expansão de seus territórios e com outros privilégios. Ele levantou uma frota entre as cidades gregas da Ásia, com a qual ele derrotou a frota do inimigo em Ilium e em Lemnos. Após isto, Lúculo volta-se para os combates em terra tendo em vista penetar no Ponto; mas tem o cuidado de não ter um confronto direto com Mitrídates devido à cavalaria superior deste. Depois de várias pequenas batalhas, Lúculo finalmente derrotou-o na Batalha de Cabira (onde Mitrídates tinha um palácio) em 72 a.C. onde desmoralizou o exército pôntico e os derrotou com poucas perdas romanas. Lúculo toma toda a Bitínia a exceção de Nicomédia onde Mitrídates se refugia. Lúculo destrói em dois combates uma esquadra que ele mandara para a Itália. No ultimo desses combates, M. Mário, mandado por Sertório para ajudar ao rei do Ponto, foi preso e morto em meio a suplícios como traidor da pátria. Assim foram destruídos os planos que havia Mitrídates baseado na coincidência de suas operações com as de Sertório na Hispânia e de Espártaco na Itália. Desde então, contentou-se em defender seu reino. Teria sido aprisionado em Nicomédia, sem a negligência de Vocônio Saxa, cuja esquadra bloqueava esse porto. Fugiu por mar, porém sofreu uma furiosa tempestade, e só pode escapar em um frágil esquife. Vendo seus estados invadidos pelos Romanos, pede socorro dos reis dos Partos e da Armênia.
Este último o respondeu, mas tardou em cumprir sua promessa. Enquanto isso Mitrídates ( imagem ao lado) tenta deter em vão seu avanço: o General romano sitia as cidades de Amiso e Eupatória e avança até Termodonte. O rei fugitivo reune no inverno um novo exército de 44.000 homens, entre os povos nômades da Ásia, e com ele passou o rio Lico. No principio da seguinte campanha, em um encontro de cavalaria, obteve ele fraca vantagem, mas dois combates dados na Capadócia em que foram vencedores os Romanos, levaram consternação aos soldados de Mitrídates, que resolveu abandonar seu exército. Na sua fuga desesperada, os soldados se rebelam e seu general Dorilau acaba morto; Mitrídates se salvou devido à dedicação de um de seus criados, que lhe deu seu cavalo. Perseguido pelos Romanos, só escapa, deixando atrás de si uma mula carregada de ouro que entretém os ávidos perseguidores. Mitrídates foi forçado a retirar-se para seu genro, Tigranes ( imagem abaixo), o rei da Armênia, de onde pede as suas irmãs e esposas que se suicidem para não cair nas mãos de Roma.
Sua irmã Monima não conseguindo se enforcar pede a um oficial que a mate. Lúculo e seus auxiliares Cota e Triário completam a conquista do Ponto: Eupatória e Heracléia são destruídas; Amiso, incendiada, apesar da hábil defesa do estratego Calínico; Sinope e Amasa são tomadas.Macares, filho de Mitrídates que reinava no Bósforo, envia embaixadores a Lúculo que firma com ele aliança com Roma (70 a.C). Nessa época a Armênia tinha um grande império no Oriente. Lúculo enviou Ápio Cláudio a Antioquia para exigir que Tigranes entregasse seu sogro; se ele se recusasse, a Armênia enfrentaria a guerra com Roma. Tigranes recusou as exigências de Ápio Cláudio, afirmando que ele se prepararia para a guerra contra a República. O General romano prepara-se imediatamente para uma invasão da Armênia. Embora ele não tivesse nenhum mandato legal do Senado que autorizasse tal movimento, ele tentou justificar a sua invasão distinguindo como o seu inimigo a Tigranes e não os seus súditos. Ele marchou com as suas tropas através da Capadócia e o rio Eufrates e penetrou na província armênia de Tsopk, onde ficava Tigranakert, mais conhecida como Tigranocerta, a capital do Reino. Abaixo, extensão do império armênio sob Tigranes, o Grande entre 95 e 66 a.C.
Tigranes, surpreendeu-se pela velocidade do avanço de Lúculo na Armênia e por ele ter tomado a iniciativa do ataque. Despreparado, com atraso ordena ao general armênio Mitrobarzanes com cerca de 2.000 para 3.000 homens para diminuir o avanço de Lúculo, mas as suas forças foram derrotadas pela cavalaria 1.600 homens conduzida por um dos legados de Lúculo, Sextílio. Tendo em vista a derrota de Mitrobarzanes, Tigranes confiou a defesa da cidade a Mancaeus e partiu para recrutar homens nas Montanhas Tauros. Enquanto isso, Lúculo investe pondo cerco à Tigranocerta. Após ter destruído as catrafactas (cavalaria armada) armênias, o exército de Tigranes, composto principalmente de camponeses vindos de vários lugares do império, se debanda. Os guardas não armênios da cidade traem Tigranes abrindo as portas da cidade aos romanos. O Rei envia 6.000 ginetes para resgatar tesouros e mulheres. No ano seguinte (68), as forças combinadas do Ponto e da Armênia voltam a enfrentar os romanos em Artaxata. Devido às severas baixas que sofreram os romanos e às duras condições a que estavam submetidos os legionários durante essas campanhas, Lúculo teve que enfrentar o descontentamento das tropas e três motins em 68 e 67 a.C. Frustrado pela indisciplina de suas tropas e a dificuldade do terreno do norte de Armênia, se retirou ao sul e saqueou Nisibis, defendida pelo irmão de Tigranes. As ações de Lúculo não traziam resultados definitivos à guerra e Mitrídates VI Eupátor, o grande inimigo de Roma, continuava livre. Ele retornara ao Ponto com 8.000 homens. Embora com cerca de 70 anos de idade, o rei do Ponto recobra seu vigor e coragem contra seus inimigos e tenta retomar seu reino. Abaixo, disposoção da batalha de Tigranocerta.
Sendo tal a situação, o Senado resolve substituir Lúculo, o qual já estava a vinte anos resolvendo problemas na Ásia. Indicado pelo senador Manílio e apoiado por Júlio César e Marco Túlio Cícero, o substituto é Cneu Pompeu
que já era o grande general de Roma na ocasião tendo resolvido muitas querelas militares no Ocidente e eliminado os piratas do Mediterrâneo. Pompeu ( imagem ao lado) traz suas próprias legiões de veteranos e penetra na Armênia derrotando a débil resistência que o enfrentou. Após ter seus exércitos remanescentes derrotados no Eufrates e em Nicópolis, Mitrídates foge para Dioscurias na Cólquida, onde invernou (66-65 a. C.). Pompeu submete os albanos do Cáucaso e o reino da Ibéria caucasiana (Kartli) e penetra na Cólquida. Mitrídates escapou mais uma vez e se refugiou no Bósforo onde seu filhos eram regentes. Pompeu organizou as conquistas, privou ao reino do Ponto das cidades de tipo grego, a exceção de algumas vilas da costa, e as subdividiu em 11 distritos. A partir de 64 a. C., Mitrídates reorganizou seu exército no Bósforo. Seu plano era como o de Aníbal, o general cartaginês inimigo de Roma: lançar os bárbaros contra os romanos. Já havia feito pactos com algumas tribos germanas e sármatas do Danúbio para uma grande ofensiva contra a Itália. Pretendia dar guerra aos romanos em suas terras: planejava atravessar a Trácia, a Macedônia e a Panônia e invadir à Itália pelo norte. No entanto, em 63 a. C., seu filho Farnaces se sublevou começando uma conspiração para retirar o seu pai do poder.
Entretanto, os seus planos foram descobertos, mas o exército, não desejando enfrentar Pompeu e os exércitos romanos, apoiou Farnaces. Eles marcharam contra Mitrídates e forçaram o seu antigo rei a tirar a própria vida. Deve ser lembrada Hypsicratea, a qual era a concubina ou a sexta e mais famosa esposa do Rei Mitrídates. Ela amou tanto seu marido que ela vestiu um disfarce masculino, adquiriu habilidades de guerreiro e o seguiu no exílio. Quando ele foi derrotado e posto em fuga, onde quer que ele buscasse o refúgio, até na solidão mais remota, ela considerou que onde quer que seu marido estivesse, lá ela encontraria a sua monarquia, as suas riquezas, e o seu país, o que foi conforto e consolo a Mitrídates em muitos infortúnios seus. Se dizia que ela o assistia em todos os trabalhos, inclusive os da guerra. Ela montou com ele na batalha, suprimiu rebeliões e lutou contra Roma. Dela se diz ter lutado com machado, lança, espada, arco e flecha.Durante a derrota do Rei Mitrídates por Pompeu, Hypsicratea libertou-se do bloqueio de Pompeu e enquanto o resto dos “súditos” se dispersava ela foi um dos três que permaneceu ao lado do Rei até seus momentos finais. Conforme a lenda, após ser derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito devido a sua imunidade. Teria, então, forçado um de seus guardas a matá-lo à espada (ilustração acima) no seu palácio em Panticapeo( abaixo). Pelo comando de Pompeu, o corpo de Mitrídates foi depois transladado de Panticapeo e enterrado ao lado dos seus antepassados em Sinope. Chegava ao fim assim, um dos maiores inimigos de Roma.
Mitrídates ganhou destaque na literatura romana antiga que de um modo geral o via como um grande inimigo, cruel e sanguinário, mas que reconhecia suas qualidades bélicas. Mitrídates arrogava-se herdeiro de Alexandre, o Grande, e defensor da civilização grega contra os “bárbaros” romanos. É lhe atribuída uma prodigiosa memória lhe permitia falar vinte e cinco línguas, de modo que podia comunicar-se com cada soldado de seus grandes exércitos no seu próprio idioma. Devido a esta lenda, certos livros que contêm excertos de muitas línguas chamam-se “Mitrídates”. Sua vida inspirou a arte: o poema
Terence, This Is Stupid Stuff de A. E. Housman e o romance
O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas fazem alusão à Mitrídates. O dramaturgo francês Jean Racine dedicou-lhe uma peça,
Mithridates (1673), e Mozart compôs uma ópera tendo o célebre rei do Ponto como tema:
Mitridate, re di Ponto (1770). Mitrídates é o grande personagem em
The Golden Slave (1960) de Poul Anderson e o protagonista de
The Last King: Rome's Greatest Enemy ( 2005) de Michael Curtis Ford.
FONTE: Wikipédia. Versões em inglês, português, espanhol e galego.